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quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Batidas da Periferia, Vozes da Resistência: O Funk Carioca como Grito de Liberdade Anticapitalista


Introdução: O Que É Que a Favela Quer?
Das ruas estreitas das comunidades, dos becos e vielas, ecoa um som que é muito mais que música: é narrativa, é crônica, é arma. O funk carioca, filho direto do Miami Bass e criado no útero das favelas do Rio de Janeiro, nunca foi apenas "ritmo". Ele é o jornal falado, o poema não autorizado, o grito de existência de uma parcela da população que o Estado e a mídia hegemônica preferem silenciar. Sob uma lente esquerdista e anarquista, o funk se revela uma poderosa ferramenta de desconstrução do poder, um espaço de autonomia cultural que desafia a moral burguesa, a repressão policial e a hipocrisia de uma sociedade profundamente classista e racista.

Batidas da Periferia, Vozes da Resistência: O Funk Carioca como Grito de Liberdade Anticapitalista


A Origem: Ocupar o Som, Ocupar a Cidade

O funk nasceu na periferia, literalmente ocupando as ondas de rádio com as famosas "pick-ups" (equipamentos de som), invadindo as frequências dominadas pelo poder econômico. Essa gênese já é um ato anarquista em essência: a criação de uma mídia independente, comunitária, que dispensa as grandes gravadoras e os gatekeepers culturais. Os bailes, organizados de forma muitas vezes autônoma, eram (e são) territórios livres temporários. São espaços onde o jovem da favela é dono de seu corpo, de sua dança, de sua narrativa. Não há pedido de licença ao centro, não há submissão ao gosto "culto" imposto de cima para baixo. É a práxis da cultura popular em estado bruto.



Letras: A Crônica do Real, Não a Apologia do Crime

Aqui reside o cerne do preconceito. Quando um MC canta sobre o "bonde", sobre o "corre", sobre a vida no morro, a elite e seus porta-vozes midiáticos rapidamente acionam o rótulo: "apologia ao crime". Mas essa é uma leitura perversa e desonesta. O que essas letras fazem é documentar a realidade material de quem vive sob o jugo do tráfico (muitas vezes fruto da ausência do Estado), da violência policial, do desemprego e da precariedade.

É uma arte testemunhal. Cantar o dia a dia é narrar a sobrevivência. É denunciar, mesmo que de forma não explícita, as condições brutais impostas pelo capitalismo periférico. Exigir que o funk cante sobre flores e amores platônicos é exigir que o favelado apague sua própria experiência. É uma forma de violência epistêmica, que tenta calar a voz que narra o que o sistema quer esconder.

O Preconceito de Classe e Raça: A Batida Inaceitável

O ódio ao funk é, antes de tudo, classista e racista. É a rejeição ao corpo preto e pobre que ousa ser feliz, que ousa ocupar espaço sonoro, que ousa existir com potência e prazer. A mesma sociedade que romantiza e consome o samba – depois de domesticá-lo –, rejeita visceralmente o funk. Por quê? Porque o funk não se deixa domesticar. Ele é cru, direto, sexualizado e potente. Ele escancara as contradições.

A hipocrisia atinge seu ápice quando vemos a elite econômica consumindo funk em festas privadas em condomínios fechados e coberturas. Nessas bolhas, o funk é "exótico", é "descolado". O mesmo som que, quando tocado no baile da comunidade, é tratado como "incômodo", "caso de polícia", "invasão de propriedade". O pobre no baile é "marginal"; o rico na festa é "despojado". Essa dupla moral revela que o problema nunca foi o som, mas quem o produz e de onde ele ecoa.

A Repressão Direta: Polícia, Justiça e a Guerra Contra os MCs

O Estado, enquanto aparelho de controle das classes dominantes, não ficou só na crítica. Partiu para a repressão aberta. MCs têm suas casas invadidas, são presos, processados e condenados com base em interpretações distorcidas de suas letras. Os bailes são constantemente alvo de operações policiais truculentas, com apreensão de equipamentos e violência gratuita.

Isso é a criminalização da pobreza e da expressão cultural. É um mecanismo de disciplinamento. A mensagem é clara: "Seu lugar de fala não é permitido. Sua existência, enquanto voz ativa e não submissa, é uma ameaça." A perseguição a artistas como MC Oruam, MC Poze do Rodo, MCs Paiva, Brisola e GH do 7, ou a histórica truculência nos bailes são exemplos vívidos dessa guerra não declarada contra a cultura preta e periférica.

Patrimônio em Perseguição: A Linha Sangrenta do Samba ao Funk

O funk não está sozinho nesta trincheira cultural. Ele é o herdeiro direto de uma longa linhagem de expressões populares que foram primeiro criminalizadas, depois cooptadas e, por fim, (tentam) ser domesticadas pelo mesmo sistema que as rejeitou. O samba, no início do século XX, era considerado "música de malandro" e seus praticantes eram perseguidos pela polícia, tendo suas rodas dispersadas. O rap nacional, que ecoa as quebradas de São Paulo e das periferias do país, carrega até hoje o estigma infundado de "incitar a violência". Há uma linha histórica clara e sangrenta que liga a repressão ao samba, ao rap e ao funk. Todas são artes que brotam do povo preto e pobre, narram suas dores, suas festas e sua revolta, e por isso são vistas como uma ameaça à ordem estabelecida. A cruel ironia é que, após décadas de luta e resistência, o samba é celebrado como a "alma do Brasil" e o funk foi oficialmente reconhecido como Patrimônio Cultural Carioca. Este reconhecimento, contudo, não apaga a perseguição atual, nem anula a hipocrisia. Pelo contrário: evidencia que o poder, ao não conseguir exterminar uma cultura, tenta engoli-la e esvaziá-la de seu conteúdo político. Reafirmar que o funk é patrimônio é afirmar que a voz da favela é legítima, é história viva, e que sua batida é o coração cultural de uma nação que insiste em marginalizar seus próprios criadores.

Uma Defesa Crítica e Consciente


Apoiar o funk como expressão legítima da periferia, no entanto, não significa adotar uma postura acrítica ou endossar passivamente todos os seus desdobramentos. Nossa solidariedade é seletiva e fundamentada nos princípios comunitários. Portanto, é preciso demarcar com clareza o que celebramos e o que questionamos.

Celebramos a crônica social, mas rejeitamos a apologia inconsequente da violência que, em vez de denunciar, pode banalizar a dor. Defendemos a liberdade do corpo e do prazer, mas somos contra a sexualização esvaziada e objetificante da figura feminina, que reproduz opressões patriarcais dentro da própria cultura de resistência. Entendemos a potência do baile como território livre, mas repudiamos a invasão sonora que desrespeita o sossego alheio e vira arma contra os próprios vizinhos da comunidade. Reconhecemos a força do linguajar direto, mas questionamos o uso excessivo e gratuito de palavrões que pode esvaziar o poder da mensagem.

Essa autocrítica não é uma concessão aos preconceitos de classe, mas um exercício necessário de responsabilidade comunitária. Um projeto verdadeiramente libertário exige que reflitamos sobre quais opressões combatemos e quais, involuntariamente, podemos estar reproduzindo. A verdadeira rebeldia está em construir uma cultura que seja potente sem ser predatória, livre sem ser irresponsável, e que coloque o cuidado com a comunidade no centro de suas batidas.



Conclusão: O Funk Como Projeto de Futuro

O funk carioca é, portanto, um projeto político de resistência. Ele é anárquico em sua auto-organização, em sua recusa a pedir permissão. É anticapitalista por expor as feridas sociais que o sistema produz e por construir uma economia cultural paralela, muitas vezes coletiva. É uma pedagogia da quebrada, que ensina sobre autoestima, sobre ocupar o espaço, sobre não ter medo de dizer quem se é.

Apoiar o funk, para quem se diz de esquerda ou anarquista, não é apenas sobre gosto musical. É sobre defender o direito à narrativa própria das classes oprimidas. É sobre entender que a luta de classes também se dá no campo da cultura, do simbólico, do direito ao prazer e à voz. É sobre gritar, junto com os beats:

AQUI É FAVELA! AQUI NÓS MANDA!


O que você achou? O funk é resistência ou apenas "música de bandido" para você? Conhece outros exemplos de cultura periférica sendo criminalizada? Compartilhe este texto, leve a discussão para as redes. E, principalmente, OUÇA os MCs, vá a um baile legalizado, compre os lançamentos. Apoie a cultura que ousa desafiar o sistema.

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